Obra de Paula Rego leiloada por valor recorde de 3,5 milhões de euros
O painel “Avestruzes Bailarinas do filme ‘Fantasia’ de Walt
Disney”, de Paula Rego, foi hoje leiloado em Londres por 3,5 milhões de
euros, um novo recorde para uma obra da artista portuguesa, confirmou a
leiloeira Christie’s.
13 Outubro 2023, 19h47
O
painel “Avestruzes Bailarinas do filme ‘Fantasia’ de Walt Disney”, de
Paula Rego, foi hoje leiloado em Londres por 3,5 milhões de euros, um
novo recorde para uma obra da artista portuguesa, confirmou a leiloeira
Christie’s.
O preço final ficou-se pelas 3,065 milhões de
libras (3,54 milhões de euros no câmbio atual), superando a base
estipulada de 2,2 milhões de libras (2,5 milhões de euros) estipulada.
A venda aconteceu hoje no leilão noturno de
obras do século XX/XXI, onde estão 52 lotes, com obras de artistas como
Lucian Freud, Peter Doig, Jean-Michel Basquiat, Andy Warhol, Damien
Hirst, Gerhard Richter, Georg Baselitz, Anselm Kiefer, George Condo,
Marlene Dumas e Lucio Fontana.
Executada em dois painéis, a peça da artista
com o título original “Dancing Ostriches from Walt Disney’s ‘Fantasia'”,
de 1995, vai pela primeira vez a leilão.
Inspirada no filme do realizador
norte-americano Walt Disney, a série “Avestruzes Bailarinas” fez
anteriormente parte da Coleção Saatchi, criada para a exposição da
Hayward Gallery “Spellbound: Art and Film”, em 1996, e tem sido exibida
frequentemente nas últimas três décadas.
Foi exibida, nomeadamente, na Tate Liverpool
(1997), no Reino Unido, no Museu Nacional Rainha Sofia (2007-08), em
Madrid, Espanha, no Musée de l’Orangerie, em Paris, França (2018-19), e
na Kestner Gesellschaft, em Hannover, na Alemanha (2022-23).
No livro da escritora Agustina Bessa-Luís “As
Meninas” (2001, Três Sinais Editores), com ilustrações de Paula Rego, a
escritora considera que “o desenho torna-se autoritário na obra de Paula
[Rego], sente-se grata por desenhar tão bem e aplica na tela o seu dom
que vai atingir o auge nas Avestruzes Dançarinas”.
“São de uma beleza monstruosa. A verdadeira
beleza é monstruosa. Sai da linha, apeia-se no descampado, salta todas
as barreiras, tem uma elasticidade sobre-humana. E, de repente, a beleza
aparece, ilimitada, pura e monstruosa”, descreveu Agustina Bessa-Luís
(1922-2019).
Nascida em Lisboa, Paula Rego, começou a
desenhar ainda em criança, e partiu para a capital britânica com 17
anos, para estudar na Slade School of Fine Art, onde viria a fixar
residência e a distinguir-se pela singularidade da obra, inspirada na
literatura, e marcada, ao longo das décadas, pela defesa dos direitos
das mulheres.
Em Londres conheceu o marido, o artista inglês
Victor Willing, que morreu em 1988, cuja obra Paula Rego mostrou por
várias vezes no museu Casa das Histórias.
Em 2004, foi elevada a Grã-Cruz da Ordem
Militar de Sant’Iago da Espada de Portugal pelo Presidente da República,
Jorge Sampaio, e, em 2010, foi nomeada Dame Commander of The Order of
the British Empire pela Coroa Britânica, pela sua contribuição para as
artes. Em 2016 recebeu a medalha de honra da cidade de Lisboa.
Em 2019, a pintora foi distinguida com a Medalha de Mérito Cultural, pelo Ministério da Cultura.
Paula Rego morreu no dia 08 de junho de 2022,
em Londres, deixando uma obra que está representada em várias das mais
importantes coleções públicas e privadas em todo o mundo.