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DR: OLIVEIRA SALAZAR |
«Devo à Providência a graça de ser pobre: sem bens que valham, por
muito pouco estou preso à roda da fortuna nem falta me fizeram nunca
lugares rendosos, riquezas, ostentações.
E para ganhar, na modéstia a
que me habituei e em que posso viver, o pão de cada dia, não tenho de
enredar-me na trama dos negócios ou em comprometedoras solidariedades.
Sou um homem independente.
Nunca tive os olhos postos em clientelas
políticas nem procurei formar partido que me apoiasse mas em paga do seu
apoio me definisse a orientação e os limites da acção governativa.
Nunca lisonjeei os homens ou as massas, diante de quem tantos se curvam
no Mundo de hoje, em subserviências que são uma hipocrisia ou uma
abjecção.
Se lhes defendo tenazmente os interesses, se me ocupo das
reivindicações dos humildes, é pelo mérito próprio e imposição da minha
consciência de governante, não por ligações partidárias ou compromissos
eleitorais que me estorvem.
Sou, tanto quanto se pode ser, um homem
livre.
Jamais empreguei o insulto ou a agressão de modo que homens
dignos se considerassem impossibilitados de colaborar. No exame dos
tristes períodos que nos antecederam esforcei-me sempre por demonstrar
como de pouco valiam as qualidades dos homens contra a força implacável
dos erros que se viam obrigados a servir. E não é minha a culpa se,
passados vinte anos de uma experiência luminosa, eles próprios continuam
a apresentar-se como inteiramente responsáveis do anterior descalabro,
visto teimarem em proclamar a bondade dos princípios e a sua correcta
aplicação à Nação Portuguesa. Fui humano.
Penso ter ganho, graças a
um trabalho sério, os meus graus académicos e o direito a desempenhar as
minhas funções universitárias. Obrigado a perder o contacto com as
ciências que cultivava, mas não com os métodos de trabalho, posso dizer
que as reencontrei sob o ângulo da sua aplicação prática; e, folheando
menos os livros, esforcei-me em anos de estudo, de meditação, de acção
intensa, por compreender melhor os homens e a vida. Pude esclarecer-me.
Não tenho ambições. Não desejo subir mais alto e entendo que no momento
oportuno deve outrem vir ocupar o meu lugar, para oferecer ao serviço
da Nação maior capacidade de trabalho, rasgar novos horizontes e
experimentar novas ideias ou métodos.
Não posso envaidecer-me, pois que
não realizei tudo o que desejava; mas realizei o suficiente para não se
poder dizer que falhei na minha missão. Não sinto por isso a amargura
dos que merecida ou imerecidamente não viram coroados os seus esforços e
maldizem dos homens e da sorte. Nem sequer me lembro de ter recebido
ofensas que em desagravo me induzam a ser menos justo ou imparcial.
Pelo
contrário: neste país, onde tão ligeiramente se apreciam e depreciam os
homens públicos, gozo do raro privilégio do respeito geral. Pude
servir.
Conheci Chefes de Estado e Príncipes e Reis e ouvi
discretear homens eminentes de muitas nações, ideologias e feições
diversas sobre as preocupações de governo, os problemas do Mundo ou as
dificuldades dos negócios.
Pude comparar.
E assim, sem ambições, sem
ódios, sem parcialidades, na pura serenidade do espírito que procura a
verdade e da consciência que busca o caminho da justiça, eu entendo que
posso trazer ao debate um depoimento.»
Dr: António de Oliveira Salazar in «Discursos e Notas Políticas».
António de Oliveira Salazar
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
António de Oliveira Salazar GCTE • GCSE • GColIH • GCIC (
Vimieiro,
Santa Comba Dão, 28 de abril de 1889 —
Lisboa, 27 de julho de 1970) foi um
estadista nacionalista português que, além de chefiar diversos ministérios, foi
presidente do Conselho de Ministros do governo ditatorial do
Estado Novo[1] e
professor catedrático de Economia Politica, Ciência das Finanças e Economia Social da
Universidade de Coimbra.
[2] Foi nomeado doutor
Honoris causa, em 1940, pela
Universidade de Oxford.
[4][5]
Nascido no seio de uma família humilde de pequenos proprietários agrícolas, o seu percurso no
Estado português
iniciou-se quando foi escolhido pelos militares para Ministro das
Finanças durante um curto período de duas semanas, na sequência da
revolução de 28 de Maio de 1926.
Foi substituído pelo comandante
Filomeno da Câmara de Melo Cabral após o golpe do general
Gomes da Costa. Posteriormente, foi de novo
Ministro das Finanças entre 1928 e 1932, procedendo ao saneamento das finanças públicas portuguesas.
[7]
Ficou também para a história como o estadista que mais tempo governou Portugal, desempenhando
funções em ditadura entre 1932 e 1933, e de forma autoritária, desde o início da
segunda república até ser destituído em 1968.
Figura de destaque e promotor do Estado Novo (1933–1974) e da sua organização política, a
União Nacional, Salazar dirigiu os destinos de Portugal como
presidente do Ministério de forma ditatorial entre 1932 e 1933 e, como
Presidente do Conselho de Ministros
entre 1933 e 1968.
Os autoritarismos e nacionalismos que surgiam na
Europa foram uma fonte de inspiração para Salazar em duas frentes
complementares: a da propaganda e a da repressão.
Com a criação da
Censura, da organização de tempos livres dos trabalhadores
FNAT e da
Mocidade Portuguesa, o Estado Novo procurava assegurar a doutrinação de largas massas da população portuguesa ao estilo do
fascismo, enquanto que a sua polícia política (
PVDE, posteriormente
PIDE e mais tarde ainda
DGS), em conjunto com a
Legião Portuguesa, combatiam os opositores do regime que, eram julgados em tribunais especiais (
Tribunais Militares Especiais e, posteriormente,
Tribunais Plenários).
Inspirado no fascismo e apoiando-se na
doutrina social da
Igreja Católica, Salazar orientou-se para um
corporativismo de Estado, com uma linha de acção económica
nacionalista assente no ideal da
autarcia. Esse seu nacionalismo económico levou-o a tomar medidas de
proteccionismo e
isolacionismo de natureza fiscal, tarifária, alfandegária, para Portugal e suas
colónias, que tiveram grandes impactos positivos e negativos durante todo o período em que exerceu funções.
Juventude e Coimbra
Em
1900, após completar os seus estudos na escola primária, com 11 anos de idade, Oliveira Salazar, ingressou no
Seminário de Viseu, onde permaneceu por oito anos.
Em
1908, o seu último ano lectivo no seminário, tomou finalmente contacto com toda a agitação que reinava em
Viseu
e também em todo o país. Surgiam artigos que atacavam o governo, o rei e
a Igreja Católica.
Foi também nesse ano que se deu o assassínio do rei
dom
Carlos I de Portugal e do seu filho, o príncipe
Luís Filipe.
Não ficando indiferente a esses acontecimentos, Salazar, católico
praticante, começou a insurgir-se contra os republicanos jacobinos em
defesa da Igreja, escrevendo vários artigos nos jornais. Após completar
os estudos, permaneceu em Viseu por mais dois anos.
Porém, em
1910, mudou-se para
Coimbra para estudar
Direito.
[7] Em
1914, concluiu o curso de Direito com a alta classificação de 19 valores e torna-se, dois anos depois, assistente de
Ciências Económicas.
Assumiu a regência da cadeira de Economia Política e Finanças em
1917 a convite do professor
Jose Alberto dos Reis e do professor Aniceto Barbosa, antes de se doutorar em
1918.
[7]
Durante esse período em Coimbra, materializa o seu pendor para a política no
Centro Académico de Democracia Cristã onde faz amigos como Mário de Figueiredo, José Nosolini,
Juvenal de Araújo, os irmãos Dinis da Fonseca,
Manuel Gonçalves Cerejeira,
Bissaya Barreto, entre outros.
Alguns haveriam de colaborar nos seus governos. Combate o anticlericalismo da
Primeira República através de artigos de opinião que escreve para jornais católicos. Acompanha Cerejeira em palestras e debates. Enquanto estuda
Maurras, Le Play e as encíclicas do
Papa Leão XIII,
vai consolidando o seu pensamento, explicitando-o em artigos e
conferências, onde se afirma que "Salazar nasceu para a política
pugnando pelo acertar do passo com a Europa, e com a paixão pela
Educação".
[8]
Entre 1920 e 1923 foi
provedor da
Santa Casa da Misericórdia de Coimbra.
[9]
As suas opiniões e ligações ao Centro Académico de Democracia Cristã levaram-no, em
1921, a concorrer por
Guimarães como deputado ao parlamento. Sendo eleito e não encontrando aí qualquer motivação, regressou à universidade passados três dias.
Desde a implantação da república em 1910 até ao golpe militar de
1926, Portugal teve oito Presidentes da República, quarenta e quatro
reorganizações de gabinete e vinte e uma revoluções. O primeiro Governo
da República não durou dez semanas e o mais longo durou pouco mais de um
ano. Várias personalidades políticas foram assassinadas
[10]
Pela Europa fora a palavra “revolução” passou a estar associada a
Portugal. O custo de vida aumentou vinte e cinco vezes, a moeda caiu
para 1/33 partes do seu valor relativamente ao ouro. O fosso entre ricos
e pobres continuou sempre a aumentar.
A Igreja Católica foi
implacavelmente perseguida pelos maçons anticlericais. Os atentados
terroristas e o assassinato político generalizaram-se. Entre 1920 e
1925, de acordo com dados oficiais da polícia nas ruas de Lisboa
explodiram 325 bombas.
Com o país continuamente à beira de uma guerra
civil, em 1926 dá-se um levantamento militar, sem derramamento de sangue
e com a adesão de inúmeros sectores da sociedade portuguesa, desejosos
de acabar com o clima de terror e violência que se tinha instalado no
país.
Fernando Pessoa, em 1928, escreve "O Interregno Defeza e Justificação da Dictadura Militar em Portugal" onde afirma:
“É hoje legítima e necessária uma ditadura militar em Portugal”.[12] Mais tarde Pessoa, desiludido, repudiou esse seu escrito, assim como o regime de Salazar, que satirizou diversas vezes.
[13][14]
Em Junho de 1926 os militares convidam Salazar para a pasta das
finanças; mas passados treze dias Salazar renuncia ao cargo e retorna a
Coimbra por não lhe haverem satisfeitas as condições que achava indispensáveis ao seu exercício.
Da pasta das finanças à Presidência do Conselho
Em 27 de abril de 1928, após a eleição do general
Óscar Carmona
e na sequência do fracasso do seu antecessor em conseguir um avultado
empréstimo externo com vista ao equilíbrio das contas públicas, Salazar
reassumiu a pasta das finanças, mas exigiu o controlo sobre as despesas e
receitas de todos os ministérios. Satisfeita a exigência, impôs forte
austeridade e um rigoroso controlo de contas, com aumentos enormes de
impostos e criação de novos, adiamento de obras de fomento e
congelamento de salarios, conseguindo um
superavit, um "milagre" nas finanças públicas logo no exercício económico de 1928–29.
[16]
"Sei muito bem o que quero e para onde vou." — afirmará, denunciando o seu propósito na tomada de posse.
[17]
Na imprensa, que era controlada pela censura, Salazar seria
muitas vezes retratado como "salvador da pátria".
Mas também alguma
imprensa internacional, que não era controlada pela censura, apontava
méritos a Salazar; em Março de 1935 a revista
Time afirmou que
"é
impossível negar que o desenvolvimento económico record registado em
Portugal não só não tem paralelo em qualquer outra parte do mundo como
também é um feito para o qual a história não tem muitos precedentes”.
O prestígio ganho, a propaganda, a habilidade política na
manipulação das correntes da direita republicana, de alguns sectores
monárquicos e dos católicos consolidavam o seu poder. A Ditadura
dificilmente o podia dispensar e o presidente da república consultava-o
em cada remodelação ministerial.
Enquanto a
oposição democrática
se desvanecia em sucessivas revoltas sem êxito, procurava-se dar um
rumo à Revolução Nacional imposta pela ditadura. Salazar, que havia sido
agraciado com a grã-cruz da
Ordem Militar de Sant'Iago da Espada a 15 de abril de 1929,
[19] recusando o regresso ao
parlamentarismo e à
democracia da Primeira República, cria a
União Nacional em
1930, visando o estabelecimento de um regime de partido único.
Em junho de 1929 Salazar volta a demitir-se.
Mário de Figueiredo,
Ministro da Justiça e dos Cultos, amigo de Salazar, publica a célebre
Portaria nº 6 259 que permite manifestações públicas do culto católico,
com procissões e toques de sinos (a realização de procissões religiosas e
o toque de sinos nas igrejas tinham sido proibidos pela república).
O
ministro da guerra Júlio Morais Sarmento comanda protestos anticlericais
e a portaria é anulada em Conselho de Ministros. Figueiredo comunica a
Salazar a sua intenção de se demitir e Salazar diz-lhe que embora não
concorde com ele, caso Figueiredo se demita, então ele, Salazar,
solidariamente, também apresentará a sua demissão.
Figueiredo demite-se e
no dia 3 de julho Salazar entrega o seu pedido de Exoneração. No dia
seguinte Carmona visita Salazar, que se encontrava hospitalizado, e
tenta demove-lo da sua Intenção de se demitir. O episódio termina com um
novo governo, presidido por Ivens Ferraa, com Salazar a continuar na
pasta das finanças.
Em
1932, ano em que a 21 de abril recebeu a grã-cruz da
Ordem do Império Colonial e a 28 de Maio (sexto aniversário do golpe) a grã-cruz da
Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito,
[19] era publicado o projecto de uma nova constituição que seria aprovada em 1933 através de um plebiscito popular directo e em que pela primeira vez em Portugal algumas mulheres são autorizadas a votar.
[22]
Esta foi a única Constituição Portuguesa a ser aprovada por sufrágio
referendário. Num universo eleitoral de cerca de um milhão e trezentos
mil eleitores, as abstenções e os votos em branco contaram como votos a
favor e o número de “nãos” ficou-se por pouco mais de seis mil votos.
Com esta constituição, Salazar cria o Estado Novo, uma ditadura antiliberal, anticomunista, e antidemocrática
[23]que
se orienta segundo os princípios conservadores autoritários: "Deus,
Pátria e Família", trilogia que expõe durante pronunciamento por ocasião
do décimo aniversário do
golpe do 28 de Maio em
Braga e que servirá de base à sua política.
A nova constituição estabeleceu um estado corporativo, semelhante ao regime Austríaco de
Engelbert Dollfuß, inspirado na doutrina social da Igreja Católica, em particular nas encíclicas
Rerum novarum e
Quadragesimo anno.
A pedra angular do sistema era o Presidente, eleito por sufrágio
direto, para períodos de sete anos, e a quem era atribuído o poder
arbitral de nomear um presidente do conselho onde, por sua vez, estavam
totalmente concentrados os poderes executivos.
A Assembleia Nacional
tinha poderes legislativos mas com limitações, nomeadamente nos casos de
leis que pudessem afectar as contas públicas.
Terminou assim o período da Ditadura Militar (1926-1933) e iniciou-se
um novo período autoritário a que Salazar chamou o “Estado Novo”.
O
Parlamento, a quem Salazar atribuia as culpas do caos da Primeira
República, fica quase vazio de poderes. Em teoria o país passa a estar
organizado em
corporações de nomeação e direcção estatal, articuladas numa
Câmara Corporativa — era também um
Estado Corporativo (negação da luta de classes) e autoritário (há um partido único, a União Nacional, e uma polícia política).
[26]
Mantendo as doutrinas coloniais que vingaram na Primeira República,
Portugal
afirmava-se como "um Estado pluricontinental e multirracial". Durante o
Estado Novo, os presidentes da república, que foram regularmente
eleitos por sufrágio universal até 1958, tinham na prática funções
meramente cerimoniais. O detentor real do poder executivo era o
presidente do Conselho de Ministros e era ele que dirigia os destinos de
Portugal.
Em Janeiro de 1933 Adolfo Hitler ascende ao poder e Salazar é
confrontado com a crescente popularidade do movimento fascista liderado
por Rolão Preto, o Nacional-sindicalismo. Salazar, pouco dado ao
espetáculo das massas e mais interessado em manter o regime autoritário
dentro da sobriedade, sem o paganismo nazi nem os aspetos
concentracionários do militarismo imperialista de Mussolini, pôs termo
ao fascismo agressivo, desativou a elite fascista e anulou o dogmatismo
restauracionista monárquico, solidificando o seu regime autocrático.
A
29 de Julho, Salazar põe termo à actividade da facção
nacional-sindicalista de Rolão Preto assinando um decreto que justifica a
extinção do movimento fascista por ser
“inspirado em certos
movimentos estrangeiros de que copiou a exaltação do valor da mocidade, o
culto da força na chamada acção directa, o princípio da superioridade
do poder político na vida social, a propensão para o enquadramento das
massas atrás ou adiante de um chefe. (…) Todos os que se não cingirem a
estas directivas só podem de futuro ser considerados indiferentes ou
inimigos”.
Rolao Preto é exilado e regressaria anos mais tarde a Portugal para apoiar a candidatura do General Humberto Delgado.
O aparelho repressivo
Em 1933, montou uma polícia política, a PVDE (Polícia de Vigilância e
Defesa do Estado), renomeada em 1945 como PIDE (Polícia Internacional e
Defesa do Estado) ; depois de sua morte, foi chamada Direção-Geral de
Segurança (DGS).
O seu papel é vigiar a população, expulsar os
opositores do regime na metrópole e nas colônias e aplicar a censura.
Tinha também o controle de estrangeiros e fronteiras.
Campo de concentração do Tarrafal em Cabo Verde
Os presos políticos são encarcerados em centros de detenção , como a
prisão de Caxias, perto de Lisboa, ou o
campo do Tarrafal, nas ilhas de Cabo Verde, e torturados. A polícia política usava informadores civis, na linguagem popular
"os bufos", que se encontravam em praticamente todos os sectores da sociedade.
[29][30]
O historiador
Douglas L. Wheeler contraria a versão corrente de que a polícia política portuguesa teria sido inspirada e até instruída pela
Gestapo
alemã. Em 1983, queixando-se antes de tudo da escassez de fontes
existentes, da desordem dos ficheiros, e também da dificuldade em lhes
aceder, conclui que a formação da polícia secreta foi antes influenciada
primeiro pelo
MI5
britânico.
Só durante a Guerra Civil Espanhola alguns oficiais da
Gestapo teriam começado a prestar assistência à secreta portuguesa .
[31]
Na sede da PIDE ,em Lisboa, um edifício de cinco andares, na Rua António Maria Cardoso, estava escrita a frase de Salazar:
«Havemos de chorar os mortos, se os vivos o não merecerem».
Até 1971, quando os interrogatórios passaram a ser feitos no reduto sul
de Caxias, foi ali que muitos opositores do regime foram sujeitos a
espancamentos e tortura. Era uma zona citadina, no meio da Baixa
lisboetaː os gritos ouviam-se na rua.
[32]
Em 1 de Agosto de 1958, a própria embaixatriz do Brasil (esposa de
Álvaro Lins) assiste à queda dum detido do terceiro andar da sede da
polícia política.
[33]
Mocidade Portuguesa
Visita do ministro Baltazar Rebelo de Sousa à vila de Figueiró dos Vinhos em 1956.À direita a Mocidade Portuguesa.
Em 1936, criou a Mocidade Portuguesa, uma organização para a juventude, inspirada na
Juventude Hitleriana,
que só seria definitivamente dissolvida em 1974.
Era obrigatório
pertencer-lhe dos sete aos catorze anos. Os seus membros trajavam um
uniforme verde do tipo militar, usavam um cinto de lona com a inicial
"S" - de Salazar, e faziam a saudação nazi de braço estendido.
[34] Quatro meses mais tarde, é criada uma milícia complementar para adultos, a
Legião Portuguesa.
[35]
A Mocidade Portuguesa, contudo, nunca foi muito popular entre os
jovens. O escritor António Lobo Antunes, falando da sua infância ,
comenta com humor sobre
"aquela coisa da Mocidade Portuguesa, que incluía farda, marchas, discursos patrióticos e parvoíces correlativas"[36]
Salazar e Franco
Na
Guerra Civil Espanhola,
deflagrada em Julho de 1936, Salazar não hesitou em apoiar Franco desde
a primeira hora.
Daí o enorme prestígio ganho por Portugal nas hostes
franquistas.
Salazar nomeia
Pedro Teotónio Pereira
para a delicada função de “Agente Especial” do Governo Português junto
do Governo de Franco. Teotonio Pereira chega a Salamanca a 19 de Janeiro
de 1938 encontrando uma atmosfera de grande simpatia para com os
diplomatas alemães e italianos e uma atmosfera de grande hostilidade
para com os diplomatas dos restantes países.
Teotónio Pereira cedo
começou a contrariar este ambiente e Portugal vem a ter um papel
fundamental na dissuasão do alinhamento da Espanha com as Potencias do
Eixo, na criação do um bloco Ibérico neutro e na aproximação da Espanha
aos Aliados.
Este papel importantíssimo de Salazar e de Teotónio Pereira
é objecto de copiosos elogios por parte de
Carlton Hayes, o historiador e Embaixador Americano em Madrid durante a guerra no seu livro Wartime mission in Spain,1942-1945
[nota 2] e por parte do Embaixador Britânico,
Samuel Hoare, no seu livro “Ambassador on a Special Mission”.
[nota 3]
Existem referências ao envio de forças militares, como o destacamento de voluntários denominado "
viriatos".
[40][41]
O apoio português também foi diplomático e logístico, tendo Salazar
facilitado o envio de armamento para as forças franquistas na fase
inicial da guerra.
Ao contrário do que durante muito tempo foi sustentado, as
relações entre Franco e Salazar foram sempre muito frias e pautadas pela
desconfiança. Desde o início da guerra civil que, ainda que podendo
impedi-lo, a censura portuguesa permite a publicação de relatos sobre os
massacres efectuados pelos franquistas em
Badajoz.
A divulgação daquelas notícias teve um impacto tremendo no
evoluir da situação espanhola e foi uma demonstração de força de Salazar
perante Franco. Após a
II Guerra Mundial, Salazar chegou a sugerir ao presidente norte-americano
Eisenhower que
Portugal não se oporia à substituição de Franco, caso o governo de
Washington considerasse essa possibilidade.
Em entrevista ao jornal Francês “Le Figaro”, a 13 de Janeiro de
1958, Franco afirma que: “O homem de Estado mais completo, mais
respeitável de entre todos os que conheci, eu dir-lhe-ei: Salazar. Tenho
aqui um personagem extraordinário, pela sua inteligência, o sentido
político, a humanidade. O seu único defeito é, talvez, a modéstia”.
[42]
Salazar nutria também uma grande admiração por outro ditador
fascista, Benito Mussolini, tendo inclusivamente uma fotografía do
italiano na sua secretária de trabalho.
[43]
A Segunda Guerra Mundial
Muito antes do início da segunda guerra mundial Salazar deixou claras
as diferenças ideológicas em relação às potencias do Eixo. Embora
Salazar reconhecesse a sua admiração pelo Duce Italiano, de quem
conservava uma fotografia na sua secretária, Salazar, como católico,
esclareceu que o Estado Novo obedecia a limitações de ordem moral que
tornavam as leis portuguesas menos severas, os costumes menos policiados
e o estado menos absoluto.
Segundo Salazar a violencia fascista não se
adaptava à brandura de costumes portugueses.
Salazar distanciou-se daquilo que chamou de "cesarismo pagão" e
apelidou Mussolini de oportunista, produto de um país de césares e
Maquiavel.
Quanto a Hitler, Salazar, como católico, reprovava o seu
paganismo e receava os seus impulsos imperialistas e de expansão
territorial. Em 1934 num discurso oficial Salazar afirmou que "Portugal
não se fez ou unificou nos tempos modernos nem tomou a sua forma com o
ideal pagão e anti-humano de deificar uma raça ou um império".
[46]
Quando questionado por António Ferro, "Como vê Hitler" Salazar
respondeu: "A Europa deve-lhe o grande serviço de ter recuado, com
assombrosa energia, e com empolgantes músculos, as fronteiras do
comunismo. Receio apenas que ele vá longe de mais no campo económico e
social.
E conversando com um diplomata romeno, que considerou A.Hitler um selvagem sem cultura, Salazar não o seguiu em tal juízo:
"deitei água na fervura, apesar de tudo, Hitler era um génio político, tendo realizado uma obra colossal".
Contudo, nos discursos que proferiu Salazar procurou sistemáticamente diferenciar o seu Estado Novo do totalitarismo, criticando o facto de na Alemanha e na Itália o Estado "ter em si mesmo, o seu fim e a sua razão de ser".
Segundo Samuel Hoare, Embaixador Britânico em Madrid durante a guerra,
Salazar era um grande pensador que detestava Hitler e toda a sua obra,
dado que o seu estado corporativo era fundamentalmente diferente do
estado concebido pelo Nazismo ou o Fascismo.
Segundo o pensamento de Salazar uma vitória alemã seria um
desastre para o estado de direito e para países periféricos, agrícolas,
como Portugal.
A aversão de Salazar ao regime nazi na Alemanha e suas ambições
imperiais foi apenas temperada pela sua visão do Reich Alemão como um
baluarte contra a disseminação do comunismo vindo da União Soviética.
Salazar tinha favorecido a causa nacionalista espanhola por receio de
uma invasão comunista de Portugal, mas estava desconfortável com a
perspectiva de um governo espanhol reforçado por fortes laços com as
potências do Eixo.
A política de neutralidade de Salazar para Portugal na Segunda Guerra
Mundial incluía um componente estratégico. O país ainda mantinha
territórios ultramarinos que Portugal não podia defender de ataques
militares. Qualquer alinhamento com o Eixo teria levado Portugal a
entrar em conflito com a Grã-Bretanha, provavelmente resultando na perda
de suas colónias, por outro lado o alinhamento com a Grã Bretanha
colocaria em risco a segurança de Portugal no continente. Em 1 de
Setembro de 1939, no início da Segunda Guerra Mundial, o Governo
Português anunciou que a Aliança Anglo-Portuguesa de 600 anos permaneceu
intacta, mas que desde que os britânicos não procuraram ajuda
portuguesa, Portugal ficou livre para permanecer neutro no país. Em um
aide-mémoire de 5 de setembro de 1939, o governo britânico confirmou o entendimento.
Um dos pilares da política de neutralidade de Salazar é a criação
junto com a Espanha de um bloco Ibérico neutro. Este bloco, começa a
ser desenhado ainda antes da guerra, quando a 20 de Setembro de 1938, o
Embaixador de Portugal em Espanha,
Pedro Teotónio Pereira,
preocupado com as simpatias da Espanha Franquista para com a Alemanha e
a Itália, envia um telegrama a Salazar sugerindo-lhe que se celebrasse
um “Pacto de Não Agressão” com o país vizinho. Após longas negociações, a
17 de Março de 1939, é assinado em Lisboa o Tratado Luso-Espanhol de
Amizade e Não Agressão (também denominado "Pacto Ibérico). Mais tarde,
em 5 de julho de 1940, após a capitulação da França, e com os tanques
alemães nos
Pirenéus,
e numa altura em que alguns ministros de Franco aventavam a hipótese da
Espanha poder vir a entrar na guerra pelo lado do Eixo e ocupar
Portugal, Salazar envia instruções para o Embaixador de Portugal em
Madrid no sentido de “se poder levar um pouco mais longe o Tratado de
Amizade e Não Agressão” com a Espanha. Na sequencia de esforços
diplomáticos desenvolvidos por Portugal, a 29 de Julho de 1940, é
assinado em Lisboa o Protocolo Adicional ao Tratado de Amizade e Não
Agressão entre Portugal e Espanha, reiterando a neutralidade peninsular.
Com este tratado assim reforçado, os dois países que se
encontravam ideologicamente em campos opostos, a Espanha como
simpatizante da Itália e da Alemanha, e Portugal como simpatizante da
Grã Bretanha, conseguem encontrar uma formula de manter a sua
neutralidade na guerra. No caso de Portugal o tratado também funcionou
como um travão para aqueles que em Espanha aventavam a hipótese de
Espanha ocupar Portugal, como era o caso do Ministro dos Assuntos
Exteriores Espanhol e cunhado de Franco, Ramon Serrano Suñer.
Este feito de Salazar e do Embaixador Teotónio Pereira na manutenção de um bloco Ibérico neutro é reconhecido pelos aliados
e é objecto de copiosos elogios por parte de Carlton Hayes, o
historiador e Embaixador Americano em Madrid durante a guerra no seu
livro Wartime mission in Spain,1942-1945 e por parte do Embaixador Britânico, Samuel Hoare, no seu livro “Ambassador on a Special Mission”.
Em 1940,
a Life considerou Salazar como
"o maior português desde Henrique o Navegador" e o “
melhor ditador de sempre” , um "
dirigente benevolente" dum povo que é apresentado como preguiçoso e apático, bebendo vinho barato noite dentro enquanto ouve o Fado.
[55]
Os Britânicos nao escondem as suas simpatias pelo regime de Salazar e
informam-no que a Universidade de Oxford tinha decidido conferir-lhe o
grau de doutor "honoris causa".
O historiador Filipe de Meneses comenta
que Oxford passou um cheque em branco á máquina de propaganda do regime.
Passado pouco tempo Winston Churchill escreve a Salazar felicitando-o
pela sua capacidade de manter Portugal fora da guerra acrescentando que
"tal como em muitas outras ocasiões ao longo dos muitos séculos da
aliança anglo-portuguesa, os interesses britânicos e portugueses são
idênticos nesta questão vital".
Em visita a Lisboa o diplomata Britânico, Sir George Rendell, que havia
estado em Lisboa durante a primeira guerra mundial, faz um balanço
entre o Portugal das duas guerras e afirma que tinha sido bem mais
difícil lidar com o Portugal aliado da primeira guerra mundial do que
com o Portugal ordeiro e neutro do Professor Salazar.
[57]
A estratégia de neutralidade é um imperativo da diplomacia por
forma a não provocar a hostilidade nos beligerantes e Salazar não
tolerou desvios dos diplomatas que arriscaram a sua política externa.
Quando o
cônsul português,
Aristides de Sousa Mendes, em
Bordéus concedeu indiscriminadamente vistos em grande quantidade, sem a prévia consulta a Lisboa, ignorando instruções do
Ministério dos Negócios Estrangeiros,
e na sequência de uma queixa formal da Embaixada Britânica segundo a
qual o cônsul português estava a protelar a passagem de vistos para fora
do horário de expediente, para poder receber mais emolumentos e que,
adicionalmente, em pelo menos um caso tinha exigido uma contribuição
indevida para um fundo de caridade.
[nota 4]
Salazar foi implacável com ele e chamou-o a Lisboa.
Não obstante a política obstinada de neutralidade, passados dois
dias de Sousa Mendes ter sido exonerado, Salazar autorizou a que os
escritórios da HICEM
[nota 5]fossem
transferidos de Paris para Lisboa. Decorridos mais alguns dias, na
eminencia de um ataque a Gibraltar, Portugal aceitou acolher na Madeira
cerca de 2500 refugiados
gibraltinos,
na sua maioria mulheres e crianças que chegaram ao Funchal entre 21 de
Julho e 13 de Agosto de 1940.
Foram acomodados em hotéis, pensões e
casas particulares e aí permaneceram até ao fim da Guerra.
[59] [nota 6]
Em novembro de 1943, o embaixador britânico em Lisboa, Sir Ronald
Campbell escrevia, parafraseando Salazar, que a "estrita neutralidade
era o preço que os aliados pagavam por benefícios estratégicos advindos
da neutralidade de Portugal" e que se a neutralidade em vez de ter sido
rigorosa tivesse sido mais benevolente a favor da Grã Bretanha, a
Espanha inevitavelmente ter-se-ia lançado de corpo e alma nos braços da
Alemanha e, se isso tivesse acontecido, a península teria sido ocupada,
seguindo-se a ocupação do Norte de África e o curso da guerra. teria
sido alterado para a vantagem do Eixo.
A manutenção da neutralidade portuguesa nem sempre foi bem aceite
pelas duas partes da contenda, tendo a questão do volfrâmio sido de
particular delicadeza. Nos primeiros anos da guerra Salazar estava
convencido que caso nao vendesse volfrâmio aos Alemães estes viriam
busca-lo pele força e por outro lado Portugal necessitava
desesperadamente de importar da Alemanha fertilizantes agrícolas e aço,
mercadorias que os aliados não estavam em condições de vender a
Portugal.
Com o ano de 1944 Londres intensifica as pressões para que Portugal
pare de vender à Alemanha o volfrâmio que Portugal tembém vendia à Grã
Bretanha e aos Estados Unidos. Quando a pressão sobre Portugal se torna
insustentável e nao obstante Salazar ter por "indigno ceder a uma
pressão exterior"e considerando uma violação da neutralidade vender
volfrâmio apenas a um dos lados beligerantes, Salazar aceita o pedido
dos Britânicos em nome da aliança mas por virtude da neutralidade opta
pela suspensão das vendas a ambos os lados da contenda, prescindindo
assim de uma importante fonte de receita para os cofres do Estado.
Salazar, segundo Kay, não era o tipo de homem para
oportunisticamente saltar para lado vencedor e por uma questão de
princípio manteve a neutralidade portuguesa até ao ultimo dia da guerra -
Hugh Kay
observa que a sua abordagem geral foi tentar atender ambos os lados
do conflito em proporções consistentes com a sua alegação de
neutralidade.
Esta obsessão de Salazar pela estricta neutralidade, leva a que
Teixeira de Sampaio, Secretário Geral do Ministério dos Negócios
Estrangeiros, seguindo as praxes diplomáticas para falecimentos de
chefes de estado com os quais Portugal mantinha relações diplomáticas,
após o suicídio de Hitler, mandou colocar as bandeiras portuguesas a
meia haste durante 3 dias, único país do mundo que o fez.
O luto provocou
"uma onda de protestos internacionais e grande escândalo interno", escreve o historiador
Fernando Rosas.
Passados oito dias do luto nacional, Salazar ordenou que não se
fizessem mais referências públicas ao assunto . Contudo, de acordo com a
historiadora
Irene Pimentel,
Salazar não era um "pró-nazi", era mais um "conservador católico" e o
seu regime não teve "a componente racista e anti-semita".
[67]
Na sequencia destes acontecimentos Teixeira de Sampaio apresentou
um pedido de demissão a Salazar. Imperturbável Salazar responde-lhe com
uma nota curta contendo um provérbio: "hora a hora Deus melhora".
Por forma a manter a neutralidade Portuguesa e poupar Portugal
aos horrores da guerra Salazar viu-se obrigado, ao longo da guerra, a
envolver-se em aturadas negociações políticas, militares e económicas, o
que lhe exigiu um enorme esforço físico, sendo visíveis os sinais de
envelhecimento no seu aspecto quando a guerra se aproximou do seu final.
Salazar e os judeus durante a guerra
Salazar sempre se manifestou contra o anti-semitismo nazi. Em 1937,
publicou uma compilação de textos (“Como se Levanta um Estado”) onde
criticou os fundamentos das leis de Nuremberga e considerou lamentável
que o nacionalismo alemão estivesse vincado por características raciais.
[69]
E em 1938, sai em defesa dos judeus portugueses, dando instruções à
embaixada na Alemanha, para que os interesses dos judeus portugueses
sejam defendidos com diplomacia mas com muita firmeza.
[70]
A política de Salazar desde o início das perseguições aos judeus
na Alemanha foi a de autorizar a sua entrada desde que pudessem deixar o
país rapidamente, ou seja, uma política de trânsito para outros países,
principalmente os
Estados Unidos e o
Brasil.
Isto não era devido ao facto de eles serem Judeus,
[71]
mas de serem potenciais motivos de tensão com a Alemanha, que Salazar
temia, ou serem agitadores políticos e subversivos.
No que toca aos
judeus portugueses, “
a política de imigração selectiva que Portugal aplicou aos judeus não afectou a situação nem o estatuto dos judeus sefarditas ou dos imigrantes asquenazitas
da Europa oriental que constituíam a Comunidade Israelita de Lisboa, os
judeus que possuíam nacionalidade portuguesa eram tratados de forma
igual a todos os outros cidadãos”.
Com o início da guerra, e não obstante a fiscalização e o rigor
nas fronteiras serem cada vez mais apertados, todas estas medidas
acabariam por falhar amplamente já que, às entradas clandestinas,
juntar‐se‐iam a falsificação de documentos e as falsas declarações.
Para
por cobro aos procedimentos irregulares que, na época, se verificavam
em muitas das embaixadas portuguesas, Salazar assina a Circular n.º 14
do MNE, distribuída a 11 de Novembro de 1939, que obrigava os serviços
consulares a consultar a PVDE, e o Ministério antes de concederem
vistos.
Por outro lado, a partir de 1940, os pedidos de vistos dos
consulados passariam a ser indeferidos a polacos, apátridas, russos,
judeus, checos, “ex-alemães”, a holandeses, a belgas em idade militar, e
ainda àqueles que pretendessem trabalhar em Portugal.
A Circular 14
afirmava explicitamente que não tinha qualquer intenção de obstruir ou
atrasar a concessão de vistos a passageiros em trânsito para outros
países, utilizando Lisboa, como ponto de embarque. Ou seja, os
consulados ficavam autorizados a conceder com autonomia vistos para
Portugal em todos aqueles casos em que o passageiro demonstrasse ter um
bilhete de saída do território português bem como um visto de entrada no
país de destino, o que num clima de guerra eram condições difíceis de
obter.
Esta Circular 14 tem sido muito criticada, sobretudo por aqueles
que querem atacar o Estado Novo, mas é justo que se diga que as regras
estabelecidas por esta circular eram bem menos restritivas que a de
outros países, como é o caso da Suécia, Suíça, Estados Unidos, etc.
[73]
e Canadá, e o caso mais extremo da Grã-Bretanha que logo a seguir à
declaração de guerra, cancelou por completo a concessão de vistos, com
receio da entrada de inimigos infiltrados.
Portugal tal como os outros
países tentava proteger-se de entradas indiscriminadas de eventuais
agitadores políticos, criminosos, apátridas, etc. Por outro lado, como
escreve Avraham Milgram, Portugal, país pobre, não tinha condições de
receber hordas de refugiados.
[74]
Contrariando as instruções de Salazar,
Aristides de Sousa Mendes, cônsul português em
Bordéus, concedeu vistos em grandes números, diz-se que a 30 mil, mas segundo, Avraham Milgram historiador da
Yad Vashem
num estudo publicado em 1999 pelo Shoah Resource Center, International
School for Holocaust Studies, a diferença entre o mito dos 30,000 e a
realidade é grande; embora o número real não seja conhecido, estima-se
em alguns milhares abaixo. No entanto, Milgram conclui que a maioria
dos judeus que, no verão de 1940, conseguiu atravessar os Pireneus e a
Espanha para a fronteira portuguesa, o fizeram graças a Sousa Mendes.
[74][75]
A desobediência de Sousa Mendes também incluiu o crime de
falsificação de documentos, para o casal luxemburguês Miny, em maio de
1940, quando o Exercito Francês ainda resistia heroicamente à invasão
alemã. Paul Miny está em idade militar e quer fugir da mobilização para o
exército luxemburguês- o Luxemburgo já estava sob ocupação nazi.
Sousa
Mendes, conhece a mulher e quer ajuda-la, decide então falsificar os
documentos e fazer Paul passar por cidadão português, o que lhe
permitirá, iludindo as autoridades fronteiriças francesas, escapar à
mobilização.
[76]
Nesta altura Aristides arriscou-se bastante, a falsificação de
documentos é um crime grave, punível com a pena de prisão.
O facto de
Aristides ser funcionário público constituía uma agravante.
[77]
Mais tarde no processo disciplinar que lhe é movido, a acusação decide
desviar o olhar deste incidente, poupando Sousa Mendes a uma condenação
certa, considerando-o um caso fora do âmbito das competências do MNE, ou
seja, um caso de polícia e justiça.
[76]
Em muitos artigos de jornais e livros, tem vindo a ser publicado
que Sousa Mendes, com 14 filhos para sustentar, foi expulso da carreira
e privado da sua reforma, vindo a morrer na miséria. No entanto, em
1940 os 12 filhos, vivos, de Aristides, já eram na sua maioria adultos,
apenas 4 ainda eram menores. Destes quatro, três eram legítimos e o
quarto a futura Marie-Rose, ainda se encontrava no ventre da amante
francesa de Sousa Mendes, Andrée Cibial.
Na verdade, Aristides Sousa
Mendes pôde usufruir, até à sua morte em 1954, de um salário completo de
cônsul de 1.ª classe, 1,593$30 Escudos mensais, muito acima da média
nacional da época o que dificilmente se poderá considerar miséria.
[78][79][80]
Rui Afonso, um dos biógrafos de Aristides, chama-nos mesmo a atenção
para o facto de que embora o salário de Aristides não pudesse ser
considerado principesco a verdade é que na época correspondia ao triplo
do salário de um professor.
[78]
As provas de que Aristides sempre recebeu o seu salário de cônsul até ao fim dos seus dias, podem ser hoje encontradas
online no
site
do Ministério das Finanças, que disponibiliza o registo de todos os
pagamentos feitos a Aristides ao longo de toda a sua carreira.
[81]
Em 1966 o
Yad Vashem em Israel, presta homenagem a Aristides, atribuindo-lhe o título de "
Justo entre as nações".
O caso de Aristides de Sousa Mendes está longe de ser único entre
diplomatas e funcionários consulares portugueses. A passagem de vistos
em desobediência à Circular 14 foi generalizada, e foi praticada por
diplomatas e cônsules portugueses de todos os quadrantes políticos.
Tais
foram, por exemplo, os casos de
Veiga Simões, embaixador em Berlim, que desprezava os nazis, o do Cônsul honorário em Milão,
Giuseppe Agenore Magno e do cônsul em Génova,
Alfredo Casanova.
Salazar também permitiu que muitas organizações
sionistas de apoio a estes judeus se estabelecessem e operassem a Portugal.
É impossível calcular com exactidão o número de refugiados que
puderam beneficiar da neutralidade e hospitalidade de Portugal. Mas os
números são impressionantes. As estimativas vão desde 100.000 até 1
milhão, notável para um país cuja população rondava os 6 milhões.
[83]
Menos mediáticos, mas heróicos, são os casos ocorridos em
Budapeste, em 1944, ano da invasão da Hungria pelas tropas alemãs, de
dois diplomatas portugueses, com a anuência e apoio de Salazar.
Sampaio Garrido,
[84]
ministro plenipotenciário em Budapeste, sensibilizado com os perigos
que os judeus corriam no território húngaro após a invasão alemã,
concedeu asilo diplomático a judeus na Embaixada Portuguesa, concedeu
passaportes provisórios e vistos colectivos.
Em Abril de 1944,
respondendo a um pedido dos aliados para reduzir o nível de
representação diplomática em Budapeste,
Oliveira Salazar destitui Sampaio Garrido deixando no seu lugar o Encarregado de Negócios,
Teixeira Branquinho.
Teixeira Branquinho obteve então de Salazar a autorização para atribuir
passaportes portugueses a judeus húngaros, que provassem ter tido nos
últimos anos “quaisquer espécie de relações morais, intelectuais ou
comerciais com Portugal ou com o Brasil” (país que Portugal representava
diplomaticamente).
Ao todo, com autorização de Salazar, Branquinho
emitiu cerca de 1,000 documentos de protecção, dos quais 700 passaportes
provisórios sem indicação de nacionalidade portuguesa, conforme
exigência de Salazar para que, mais tarde, a não pudessem reclamar.
Sampaio Garrido e Teixeira Branquinho nunca tiveram a projecção
mediática de Sousa Mendes, provavelmente porque foram autorizados por
Salazar e não teriam qualquer utilidade política no ataque ao Estado
Novo.
Sampaio Garrido recebeu, a título póstumo, a medalha de “Justo
entre as Nações” pela sua acção de protecção e salvamento de judeus
húngaros. A distinção foi decidida em 2 de fevereiro de 2010, pelo Yad
Vashem - Autoridade Nacional para a Memória dos Mártires e Heróis do
Holocausto criada em 1953 pelo Estado de Israel.
[87]
Papel dos Açores
Historicamente as ilhas atlânticas sempre foram geograficamente
vitais para o domínio do oceano Atlântico e com o advento da aviação
essa importância aumentou.
Perante a possibilidade de uma invasão Alemã o
Governo de Salazar planeia fazer uma retirada estratégica, instalar-se
nos Açores e aí garantir a soberania portuguesa. Entre o final de 1940 e
Maio de 1941, o Governo Português mobilizou reforços significativos do
Continente e, também, das forças locais a fim de aumentar os efetivos de
defesa dos Açores. A partir de Maio, Salazar começou a enviar militares
em massa para os Açores.
Em 1943 a navegação no Atlântico Central estava ameaçada pelos
U-boats alemães, que estavam bem presentes na zona dos Açores e
afundavam muitos dos navios Aliados, principalmente os que iam em
direção ao Norte de África e a Itália. Na Cimeira de Trident , em maio
de 1943, que reuniu em Washington, Roosevelt, Churchill e os chefes
militares dos dois países foi decidida a invasão dos Açores.
[88]
Com os Açores cada vez mais importantes, o Presidente Roosevelt ordena que seja preparada a
Operação Alacrity
cujo principal objetivo era a ocupação dos Açores por razões
estratégicas. A operação não chega a ser executada porque o embaixador
britânico em Lisboa,
Ronald Campbell, juntamente com
Anthony Eden,
convence Churchill e Roosevelt a optarem pela via diplomática. A opção
defendida por Ronald Campbell acaba por triunfar. A Inglaterra invoca a
Aliança Luso-Britânica e Salazar concede o estabelecimento de bases militares Britânicas (mas não Americanas) nos Açores.
[89]
Os Estados Unidos não ficaram satisfeitos com o acordo
luso-britânico de 1943, uma vez que este não previa a possibilidade de
as forças norte-americanas terem acesso directo à base inglesa. As
negociações entre Portugal e os Estados Unidos para a concessão de
facilidades nos Açores foram longas e complexas, demorando praticamente
um ano a concluir. Inicialmente conduzidas pelo jovem
chargé d'affaires em Lisboa,
George Kennan o acordo final entre os dois governos seria assinado a 28 de Novembro de 1944 por Salazar e pelo embaixador
Henry Norweb.
Portugal concedia aos Estados Unidos a utilização sem restrições da
base aérea de Santa Maria. Salazar negoceia como contrapartida o
fornecimento de armamento (poderia a Alemanha vir a atacar Portugal) e a
garantia da restituição da soberania portuguesa a
Timor
no fim da guerra, (Timor tinha sido invadido pelos aliados neerlandeses
e australianos, invocando necessidades defensivas) e posteriormente
pelos japoneses. Salazar também conseguiu por parte dos Estados Unidos o
compromisso formal de respeitarem a soberania portuguesa em todas as
colónias portuguesas.
[nota 7]
Rescaldo da neutralidade portuguesa
A posição da neutralidade de Portugal e a consequente abertura dos
canais diplomáticos e comerciais com ambas as partes beligerantes, a
balança comercial portuguesa manteve saldo positivo durante boa parte do
conflito, nomeadamente nos anos de
1941,
1942 e
1943.
Nestes anos, as exportações ultrapassaram as importações, facto que não
se verificava desde dezenas de anos, e que até a actualidade não se
voltou a verificar. Esta hábil gestão da neutralidade trouxe-lhe, no
final da guerra, os benefícios da paz sem ter de pagar o preço da
guerra. Portugal foi uma das poucas zonas de paz num mundo a "ferro e
fogo", serviu de refúgio a muitas pessoas de várias proveniências. Um
desses refugiados foi o arménio
Calouste Gulbenkian,
que permaneceu no país tendo legado uma das mais importantes
instituições ao serviço da cultura em Portugal.
Esta situação económica
conseguiu também atenuar os problemas provocados pela Guerra Civil
Espanhola (1936–1939) e pela própria Segunda Guerra Mundial, que
trouxeram problemas de escassez de géneros (Portugal era deficitário
quanto a alimentos) e a inflação que disparou.
Em Portugal, embora alguns apontassem méritos a Salazar no que
respeita à reorganização financeira, à restauração económica e à defesa
da paz, muitos entenderam que tinha chegado a oportunidade de mudança
política.
Persistência do regime após o término da 2.a Guerra Mundial
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, e o triunfo dos Aliados, muitos
esperavam que em Portugal se estabelecesse uma democracia. Tal não
aconteceu, e as duas ditaduras ibéricas, a de Franco e Salazar,
permaneceram.
[90][91]
Em Setembro de 1945, o Governo dissolveu a Assembleia Nacional e anunciou eleições para Novembro,
"tão livres como na livre Inglaterra"
conforme as conhecidas palavras de Salazar na ocasião, com
possibilidade de participação de outros grupos políticos.
Foi assim
criado o M.U.D. (
Movimento de Unidade Democrática),
em Outubro desse ano, com a devida autorização do Governo. Era um
movimento que aglomerava socialistas, marxistas, socialistas cristãos e
outras várias tendências da oposição. Durante o período eleitoral, houve
um abrandamento da censura, que serviu para revelar um crescente
descontentamento de uma parte importante da população.
O M.U.D., desejando ter tempo para melhor se organizar com vista
ao acto eleitoral, pediu o adiamento das eleições. Quando O. Salazar
recusou, a oposição decidiu abster-se de participar, e assim foram
eleitos todos os elementos que tinham sido propostos pela União
Nacional. Após este episódio de falsa abertura, o governo usou as listas
de apoio ao M.U..D. para prender centenas de pessoas, demitir muitas de
cargos públicos e colocar sob vigilãncia policial muitas outras. Em
Janeiro de 1948 o M.U.D. foi ilegalizado.
[92]
Em 22 de Julho de 1946, a revista Time faz capa de O.Salazar, e num artigo intitulado
«Portugal, how Bad is the Best», de tom muito pouco favorável, descreveu-o como
«o decano dos ditadores europeus» que comandava
«uma terra melancólica de gente empobrecida, confusa e assustada»[94]
Nas eleições presidenciais seguintes, em 1949, a oposição apresentou como candidato o General
Norton de Matos.
Sem garantias de liberdade de voto e sem conseguir a revisão dos
cadernos eleitorais, este desistiu poucos dias antes das eleições .Deste
modo foi eleito o candidato do regime,
Óscar Carmona. Mais uma vez, após as eleições, seguiu-se uma vaga de detenções e perseguições.
Nas eleições presidenciais que tiveram lugar em 1958, a oposição democrática desta vez apresentou o general
Humberto Delgado
como candidato. Mais uma vez, a oposição era uma mistura das mais
variadas tendências : incluía personagens que já tinham figurado ainda
mais á direita do regime, como
Rolão Preto, o fundador dos "camisas azuis" - o
Movimento Nacional-Sindicalista.
O próprio H. Delgado tinha saído das fileiras do sistema salazarista, de que tinha sido um dos defensores mais radicais.
O candidato apresentado pelo regime foi o Almirante
Américo Thomaz,
um homem soturno, figura meramente simbólica, que se tornou objecto
frequente de chacota popular pelos seus enormes desastres oratórios.
[97]
H. Delgado, desta vez, levou as eleições até ao fim. Logo no
início de campanha, .numa conferência de imprensa, em 10 de maio de
1958, no café da capital
Chave d'Ouro , em resposta a uma pergunta sobre o que faria com Salazar se fosse eleito respondeu com a famosa frase:
"Obviamente, demito-o!",
que desencadeou reações furiosas do regime e da imprensa controlada
por si.
A campanha de Delgado juntava multidões entusiasmadas em todo o
lado.
Depois dum comício no Porto, onde o número de pessoas surpreendeu o
próprio candidato, regressou a Lisboa em 16 de Maio. Uma multidão
esperava-o na estação de caminho de ferro de Santa Apolónia, mas nessa
altura já o mecanismo policial estava a postos, e impediu qualquer
contacto, tendo Delgado sido escoltado até sua casa pela polícia Os
seus apoiantes tentaram então ir , pacíficamente, até á sua sede de
campanha, mas foram dispersados pela GNR e polícia, que abriram fogo.
Houve feridos e falou-se de mortos, mas o número real é desconhecido. A
17 de maio, uma nota oficiosa de Salazar culpou a oposição pelos
acontecimentos e avisou que quaisquer tentativas subversivas de
desestabilizar a ordem teriam a resposta de
"maior severidade"
A 18 de Maio, em Lisboa, repetiram-se cenas semelhantes , mas
ainda com mais gravidade. Polícia, GNR a cavalo e agentes da PIDE
utilizaram armas de fogo contra civis num comício. A Time contou 33
feridos, a Reuters falava em oitenta. De novo o regime culpou a
oposição.
[98][99]
A 8 de Junho de 1958 tiveram lugar as eleições fraudulentas, com o óbvio vencedor:
Américo Thomaz.
Após o acto eleitoral, houve novamente um crescendo da repressão;
muitos dos seus partidários foram demitidos ou presos, e Delgado foi
também imediatamente demitido, tendo de solicitar asilo político à
embaixada do Brasil, em 12 de janeiro de 1959, num imbróglio que acabou
por motivar também a demissão do embaixador brasileiro
Álvaro Lins.
Para acabar com os sobressaltos, o regime modificou a Constituição em
Agosto de 1959, passando o Presidente a ser eleito por um colégio
eleitoral reduzido.
[100] Delgado seria assassinado pela PIDE em 1965.
Em novembro de 1965, a revista Time escreveu sobre Salazar:
"A
cada quatro anos, o primeiro ministro Oliveira Salazar preserva a
imagem de Portugal como uma democracia, sacudindo a poeira de alguns
líderes "oposicionistas" selecionados e relaxando os controles policiais
apenas por algumas semanas, para concorrerem à Assembleia Nacional de
130 liugares. Há algumas rachas na fachada. A Assembleia funciona apenas
como um carimbo .Os candidatos da oposição são geralmente homens
frágeis que sobraram de um regime que foi desacreditado e derrubado há
quatro décadas , e Salazar decide sobre o que o que eles podem e não
podem falar ."[101]
Política externa após a Segunda Guerra Mundial
Uma vez terminada a
Segunda Guerra Mundial,
e apesar da sua aversão ás democracias, Salazar dirigiu a política
externa portuguesa claramente para o "bloco Ocidental", como já tinha
sido patente nos últimos anos da Guerra pela cada vez maior colaboração
com os Aliados, que incluiu a cessão da
Base das Lajes.
Desde o exterior, EUA, Reino Unido e França percecionaram o
regime Salazarista como um regime autocrático, benévolo, de repressão
muito moderada, muito diferente do regime franquista, o que permitiu a
Portugal ganhar um estatuto de aliado e ser membro fundador das
principais organizações ocidentais do pós-guerra.
[102]
Do ponto de vista militar, Portugal foi membro fundador da
NATO em 1949 ao lado do
Reino Unido, sempre visto por Salazar como o tradicional aliado de Portugal.
Do ponto de vista de integração económica, foi também membro fundador em
1960 da Associação Europeia de Comércio Livre (
EFTA no seu acrónimo em Inglês), juntamente com a
Áustria,
Dinamarca,
Noruega,
Suécia,
Suíça
e Reino Unido.
Isto permitiu uma maior abertura ao comércio
internacional da economia Portuguesa que, deste modo, cresceu
exponencialmente nos anos que se seguiram. Entre 1960 e 1972 o volume do
comércio externo Português quadruplicou.
Nesse ano já cerca de 70% do
comércio externo da Metrópole era feito com os outros estados membros da
EFTA, representando as colónias uma percentagem bem mais diminuta. A
entrada de Portugal na EFTA esteve na base do período de maior
crescimento económico de Portugal no século XX. Entre 1960 e 1973 o
rendimento nacional por habitante cresceu a uma média superios a 6,5% ao
ano.
[103][104]
Apesar de não ter relações diplomáticas com países do bloco Comunista, manteve relações comerciais quer com a
República Popular da China, que durante as décadas de cinquenta e sessenta fazia uma boa parte do seu comércio externo através de
Macau, e outros países Socialistas
Asiáticos.
Em 1961, no seguimento da invasão do
Estado Português da Índia corta relações diplomáticas com a
União Indiana.
Nesse mesmo ano, tem início a
Guerra Colonial. Nos termos da
Resolução 1514 da Assembleia Geral das Nações Unidas, a
ONU
e muitos dos seus Estados membros começam a pressionar o governo de
Salazar para acelerar a descolonização.
Este recusa a descolonização mas
colabora sempre com o
Comité de Tutela
das Nações Unidas. Desde a adesão de Portugal à ONU e colocação das
colónias Portuguesas na lista de territórios sob tutela, que o governo
de Salazar providencia anualmente estatísticas e dados nos quais
demonstra os esforços portugueses em melhorar a vida das populações dos
territórios ultramarinos portugueses.
Nessa altura são fundadas as
primeiras Universidades na África Portuguesa, bem como uma rede de
escolas e hospitais que ainda corresponde hoje em dia, com poucas
alterações, às redes escolar e hospitalar dos países independentes que
formavam o Império Português.
Guerra colonial
Desde o final da
Segunda Guerra Mundial, em
1945, que a comunidade internacional e a ONU vinham a defender a implementação de uma política de
descolonização em todo o mundo. O Estado português recusou-se a conceder a autodeterminação aos povos das regiões
colonizadas.
Salazar, praticando uma política de isolacionismo internacional sob o lema
Orgulhosamente sós, levou Portugal a sofrer consequências extremamente negativas a nível cultural e económico.
No mês de março de 1961, no norte de
Angola
acaba por estalar uma sangrenta revolta, com o assassínio de colonos
civis, incluindo mulheres e crianças.
A chacina merece de Salazar a
resposta:
Para Angola rapidamente e em força. Defensor de uma política colonialista, Salazar alimenta as fileiras da guerra colonial, que se espalha à
Guiné e a
Moçambique, com o propósito de manter as chamadas
províncias ultramarinas sob a
bandeira portuguesa.
Neste particular, o da defesa do colonialismo, Salazar e grande
parte da oposição estavam de acordo. Apenas o Partido Comunista, e só a
partir de meados de 1950, por influência Sovietica, começa a defender a
descolonização.
A defesa de um Portugal Ultramarino foi sempre suportada
pelas mais destacadas figuras da oposição, nomeadamente, João Soares
(pai de Mario Soares), que foi Ministro das Colonias, e também os
autodenominados “republicanos de tendência socialista” de revista de
intervenção doutrinária e política,
Seara Nova
que proclamavam que “A Seara Nova entende que a finalidade ideal da
nação, maior e profunda razão da sua independência, se liga
indissoluvelmente à missão colonizante e, por consequência, à posse dos
seus domínios do ultramar.
Destarte, qualquer perigo que impenda
seriamente sobre as colónias portuguesas, conturba e ameaça a vida de
Portugal, no jogo íntimo das suas energias e aspirações essenciais."
[105] Até o
General Norton de Matos, líder da oposição ao Estado Novo, apoiado por
Mário Soares,
em 1953, no seu livro "Africa Nossa", defendeu que Portugal tem “pois
de povoar essas terras, intensa e rapidamente, com famílias brancas
portuguesas e continuar a assimilar os habitantes de cor que lá
encontramos. Assimilação completa, material e espiritual“.
[106]
A guerra colonial teve como consequências milhares de vítimas
entre os povos que acabariam por se tornar independentes e entre
portugueses. Teve forte impacto económico em Portugal, e nas colónias,
aonde o desenvolvimento económico foi muito acelerado em tempo de
guerra; mas abalou as estruturas políticas e sociais do País, tendo sido
uma das causas da queda do regime e do
25 de Abril.
Últimos anos
"Dêmos à nação optimismo, alegria, coragem, fé nos seus destinos;
retemperemos a sua alma forte ao calor dos grandes ideais e tomemos como
nosso lema esta certeza inabalável: Portugal pode ser, se nós
quisermos, uma grande e próspera nação."
O princípio do fim de Salazar começou a
3 de agosto de
1968, no
Forte de Santo António, no Estoril. A queda de uma cadeira de lona, deixada em segredo primeiro, acabou por ditar o seu afastamento do Governo.
António de Oliveira Salazar preparava-se para ser tratado pelo
calista, quando se deixou cair para uma cadeira de lona. Com o peso, a
cadeira cedeu e o chefe do Governo caiu com violência, sofrendo uma
pancada na cabeça, nas lajes do terraço do forte onde anualmente passava
as férias, acompanhado pela governanta Maria de Jesus.
Levantou-se
atordoado, queixou-se de dores no corpo, mas pediu segredo sobre a queda
e não quis que fossem chamados médicos, segundo conta Franco Nogueira.
[107]
Outra testemunha, o barbeiro Manuel Marques, contraria esta tese.
Segundo ele, Salazar não caiu na cadeira, que estava fora do lugar, mas
tombou no chão desamparado. Segundo Marques, Salazar costumava ser
distraído e tinha o hábito de «saltar para as cadeiras».
Nesse dia,
preparando-se para ler o jornal, caiu onde habitualmente estava uma
cadeira, mas que nesse dia tinha sido movida.
[108]
Ainda outra testemunha diz que Salazar não caiu de uma cadeira, e sim
de uma banheira, testemunha essa que acompanhou Salazar da casa de banho
até ao quarto no dia do sucedido.
[109]
A vida de António de Oliveira Salazar prosseguiu normalmente e só
três dias depois é que o médico do Presidente do Conselho, Eduardo
Coelho, soube do sucedido.
[110]
Só 16 dias depois, a 4 de Setembro, Salazar admite que se sente doente:
«Não sei o que tenho».
A 6 de Setembro, à noite, sai um carro de São
Bento. Com o médico, Salazar e, no lugar da frente, o director da PIDE,
Silva Pais. Salazar é internado no
Hospital de São José
e os médicos não se entendem quanto ao diagnóstico − hematoma
intracraniano ou trombose cerebral −, mas concordam que é preciso
operar, o que acontece a 7 de Setembro.
Salazar foi afastado do governo em 27 de setembro de 1968, quando o então presidente da república,
Américo Tomás, chamou Marcello Caetano para substituí-lo.
[111] A 4 de outubro desse ano (pelo 58.º aniversário da implantação da república) recebeu o grande-colar da
Ordem do Infante D. Henrique.
[19]
Os médicos temiam que, depois de ter vencido a doença, não sobrevivesse à revelação de que já não era
Chefe de Estado. Deste modo, até morrer, em
1970,
Salazar nunca chegou a saber que tinha sido substituído, continuando a
falar como se fosse ainda o chefe do Governo e as visitas que recebia
sustentavam a mentira piedosa, situação verdadeiramente trágica que só
poderia acabar pela morte ou por inadvertida indiscrição.
[112]
Morreu a 27 de Julho de 1970 e foi sepultado em campa rasa, ao lado dos pais, no cemitério da sua aldeia.
[113]
Salazar e os Comunistas
Em 8 de setembro de 1936, teve lugar em Lisboa a
Revolta dos Marinheiros, também conhecida como
Motim dos Barcos do Tejo,
mais uma aparatosa acção levada a cabo durante a Guerra Civil Espanhola
contra a ditadura portuguesa.
A acção foi desencadeada pela
Organização Revolucionária da Armada (ORA), estrutura criada em 1932 para agrupar as células do
Partido Comunista Português (PCP) da Marinha. A organização editava um mensário intitulado
O Marinheiro Vermelho.
Os marinheiros comunistas sublevaram as tripulações dos navios de guerra
Dão,
Bartolomeu Dias e
Afonso de Albuquerque,
procurando sair com eles da Barra do Tejo. Após uma intensa troca de
tiros travada entre estes e o Forte de São Julião, que causou a morte de
10 marinheiros, a revolta fracassou e os sublevados foram presos. Foi o
último desafio militar ao Estado Novo até aos acontecimentos que em
1974 levaram à sua queda.
[7]
Salazar e os monárquicos
Salazar conseguiu alimentar durante muito tempo a lenda dos seus sentimentos
monárquicos.
O conhecimento que hoje temos dos seus "escritos de juventude",
[114][115]
a observação cuidada dos acontecimentos políticos da época e o conteúdo
da correspondência entre Salazar e Caetano, revelam que o seu alegado
"monarquismo" se inseriu num habilidoso jogo político através do qual
Salazar conseguiu obter o apoio de alguns
monárquicos para sustentar o seu "Estado Novo".
[116][117]
O seu
antimonarquismo começou a revelar-se dentro do
Centro Católico Português, quando, no seu congresso de
1922,
vinga a tese de Salazar de que o Centro deveria aceitar o regime
republicano "sem pensamento reservado".
Monárquicos católicos, com
destaque, entre outros, para Fernando de Sousa (Nemo),
Alberto Pinheiro Torres,
Diogo Pacheco de Amorim, abandonaram então o Centro Católico.
Ao chegar ao poder, no discurso que proferiu em 9 de junho de
1928,
a solução do "problema político" do regime (monarquia ou república)
surgia ainda em último lugar nas suas prioridades. Uma resolução tomada
dois anos depois, porém, revelava a grande distância que ia entre as
suas palavras e os seus actos. Após a falhada
Monarquia do Norte, em
1919, umas centenas de oficiais do exército foram afastados do serviço ou demitidos, quando dominava a cena política o
Partido Democrático de
Afonso Costa.
Mais tarde, o governo de
António Maria da Silva, para amainar os ânimos já muito exaltados contra a
Primeira República,
apresentou no parlamento e no senado um projecto visando a reintegração
no serviço activo daqueles oficiais. O golpe militar de 28 de maio de
1926 interrompeu o processo, mas, em
1930, o tenente-coronel
Adriano Strecht de Vasconcelos apresentou ao presidente
Óscar Carmona um documento intitulado "A Situação Jurídica dos militares afastados do serviço do Exército em 1919", pedindo justiça.
[7]
Oliveira Salazar reagiu impedindo a reintegração daqueles oficiais monárquicos.
Na sequência da morte de dom
Manuel II, em 2 de julho de
1932, a ilusão do "monarquismo" de Salazar caiu por completo quando o seu governo se apropriou dos bens da
Casa de Bragança instituindo a
Fundação da Casa de Bragança. A derradeira prova de que Salazar não queria a monarquia deu-se em
1951 no congresso da
União Nacional, em
Coimbra.
Em discurso encomendado por Salazar,
Marcello Caetano vem a travar naquele congresso as teses da restauração da monarquia.
[118]
Temos ainda a consciência desse facto, que Salazar não apoiava a
monarquia mas que se servia dos monárquicos que o admiravam e perseguia
quem não o fazia na história do
Integralismo Lusitano.
Os amores de Salazar
A imagem de Salazar na opinião pública era de um homem inteiramente
dedicado à nação, quase um monge, afastado de tentações femininas, e a
censura encarregava-se de manter essa imagem. Contudo isso não
corresponde à verdade.
Salazar teve vários casos amorosos, embora
receasse apaixonar-se. Um dos seus colegas de seminário comentaː
"Ele
nunca pronuncia as palavras que as pessoas esperam, não cede a
impulsos, mal deu qualquer coisa de seu coração, ele apressa-se a
retirá-lo".
A primeira mulher da sua vida foi uma ruiva, Felismina de
Oliveira, uma amiga da sua irmã. Era uma jovem de origem modesta, que a
acompanhava aos sábados nas visitas a Salazar no seminário. A oposição
da família de Felismina e a carreira religiosa que O. Salazar seguia
acabaram com a relação. Porém, Salazar sai do seminário e entra na
Universidade de Coimbra, na altura da proclamação da Primeira República
de Portugal.
Em Coimbra tem um romance com a pianista Glória Castanheira, e
depois com a sobrinha desta, Maria Laura Campos, casada, com a qual se
encontra várias vezes num hotel - o Hotel Borges, em Lisboa -entre 1931 e
1932, mesmo depois de ela casar pela segunda vez. O caso termina quando
Laura , acompanhada do marido, se muda para Sevilha. Também no hotel
Borges se encontrará com Mercedes de Castro, rica e filha de um
diplomata.
Também se relacionou com Maria Emilia Vieira, uma jovem que,
antes de conhecer o ditador, já tinha vivido aventuras boémias em
Paris, como astróloga e dançarina .
O seu último
affaire, o mais forte e duradouro, parece ter sido o que manteve com
Christine Garnier,
jornalista e escritora francesa.
Esta, também casada, tinha-se
deslocado, em 1961, propositadamente a Portugal com a ideia de escrever
um livro sobre Salazar. Ele convida-a a vir a Portugal nas férias; em
Santa Comba Dão; ela espanta-se com a modéstia da casa. Christine
torna-se a sua favorita, e a partir daí faz viagens frequentes entre
Portugal e França.
Salazar abandona por um tempo a sua habitual avareza e
enche-a de presentes. O livro é escritoː
Férias com Salazar, um sucesso de vendas.
[119][120]
Vários historiadores e observadores apontam como provável um amor
platónico da sua governanta virgem, Maria de Jesus Caetano Freire, por
ele.
Ela tinha-o seguido de Coimbra, onde já o servia, para Lisboa, em
1928. Era uma mulher dura e forte, rígida, vingativa, de uma
"dedicação canina" ao ditador -
"uma personagem importante",
diz ele mesmo.
A governanta é ciumenta das atenções que este dispensa,
por exemplo, às duas garotas que recebeu em São Bento e que são da
família de Maria de Jesus.
Micas, (Maria da Conceição Rita) uma das
crianças, conta que Salazar era incapaz de se ir deitar sem passar pelo
seu quarto a compor-lhe a roupa e afagar-lhe os cabelos; também era ele
quem com elas brincava e lhes contava histórias.
Salazar, visto como um
homem frio e distante, que raramente sorria, era no entanto carinhoso e
preocupado com os seus mais íntimos.
[121]
Atentado
Emídio Santana, anarquista, fundador do Sindicato Nacional dos
Metalúrgicos, tentou assassinar Salazar em 4 de Julho de 1937.
Este ia a
caminho da missa numa capela privada em Lisboa. Quando saía do carro,
uma bomba explodiu a cerca de 3 metros , mas Salazar escapou são e
salvo.
O carro oficial foi então substituído por um Chrysler Imperial
blindado. Hitler felicita Salazar por ter escapado e Mussolini envia
elementos da sua guarda pretoriana para ajudar nas perseguições que se
seguiram.
[122][123]
A PIDE lança uma caça ao homem com prisões indiscriminadas e torturas.
Emídio Santana fugiu para a Grã-Bretanha, onde foi preso pela polícia
britânica e entregue a Portugal. Ele foi então condenado a 16 anos de
prisão.
[124]
Com o apoio da Igreja e dos mais altos clérigos, rezaram-se
missas de acções de graças por todo o país; o desfecho do atentado
contribuiu, em boa medida, para consolidar a imagem providencialista
desde sempre associada à figura de O.Salazar, restaurador das finanças e
condutor dos destinos da nação.
[125]
A Concordata
Em 1911 tinha sido publicada a Lei da Separação do Estado das
Igrejas, de Afonso Costa.
Um documento que o Papa Pio X declarara nulo
“como uma lei que despreza a Deus” e que “enxovalha e insulta a
majestade do Pontificado Romano, o episcopado, o clero e o povo Lusitano
e até os católicos todos do universo”.
Se a religião católica tinha
deixado de ser a do Estado, não tinha no entanto deixado de ser a de
parte do povo, como mostraram fenómenos de religiosidade popular como
Fátima, em 1917.
Em 1940, depois de aturadas negociações, Salazar assina a
Concordata entre a Santa Sé e Portugal,
o culminar da aproximação entre Portugal e a Santa Sé, que tinha
começado logo após o fim da I República.
A questão da indemnização da
Igreja Católica pela nacionalização dos seus bens durante a Primeira
República foi reivindicada pela Santa Sé mas Salazar rejeita porém tal
hipótese e adopta um regime de separação de poderes entre o Estado e a
Igreja.
Salazar impôs os seus pontos de vista, fazendo um acordo cujas
benesses para a Igreja ficaram muito aquém das vantagens oferecidas
noutras concordatas, como a italiana ou a espanhola, conferindo-lhe uma
plasticidade que permitiu a sua persistência no ordenamento jurídico
português até 2004 tendo inclusivamente sobrevivido ao 25 de Abri de
1974. No período revolucionário sofreu apenas uma alteração, em 1975, ao
artigo 24º, remetendo a indissolubilidade do casamento católico para a
esfera do direito canónico e da consciência dos cônjuges, acabando assim
com a proibição do divórcio civil para os casamentos católicos.
[126]
Salazar na Literatura Portuguesa
Segundo o historiador
António José Saraiva,
que foi opositor do regime, exilado político e militante do Partido
Comunista, quem lê os "Discursos e Notas" de Salazar “fica subjugado
pela limpidez e concisão do estilo, a mais perfeita e cativante prosa
doutrinária que existe em língua portuguesa, atravessada por um ritmo
afectivo poderoso”.
Segundo este autor da "História da Literatura
Portuguesa" (obra conjunta com Óscar Lopes) a prosa de Salazar merece um
lugar de relevo na História da Literatura Portuguesa (e só
considerações políticas a arredaram do lugar que lhe compete). Salazar é
detentor de “uma prosa que guarda a lucidez da grande prosa do século
XVII, e de onde é banida toda a nebulosidade, toda a distracção, toda a
frouxidão, tudo o que frequentemente torna obscura ou
despropositadamente ofuscante a prosa dos nossos doutrinadores."
[nota 8].
[127]
Genealogia
Genealogia de António de Oliveira Salazar[Expandir]
Na cultura popular
Televisão
Os Grandes Portugueses
No programa da
RTP Os Grandes Portugueses, realizado em Março de 2007, Salazar foi a mais votada das personalidades em jogo, com 42% dos votos expressos, seguido de
Álvaro Cunhal, com 19%, e de
Aristides de Sousa Mendes, com 13%.
[128][129] Jaime Nogueira Pinto, professor universitário, fez a sua apresentação.
O concurso de modo algum é representativo da opinião pública
portuguesa, dado consistir de votações telefónicas, no total de 159.245,
o que não atinge sequer dois por cento da população.
[130]
É desvalorizado por alguns historiadores como
José Mattoso,
António Reis,
António Manuel Hespanha e
Fernando Rosas, que acusaram a RTP de
desinformação e manipulação num texto publicado no jornal
Expresso. Em declarações ao
Diário de Notícias,
Nuno Santos, ex-director de programas da RTP, considera que a acusação
é de mau gosto e revela má-fé.
Após a realização do concurso, a RTP encomendou uma
sondagem/estudo de opinião à Eurosondagem, em Março de 2007 , com 1048
entrevistas pessoais e resultados muito diferentes.
[131] Outra sondagem da Marktest também chegou, através de apenas 807 entrevistas, a resultados muito diversos.
[132]
Biografia cronológica
- 1889: Nasce em Vimieiro, Santa Comba Dão.
- 1914: Em Coimbra, conclui o curso de Direito.
- 1918: Professor de Ciência Económica.
- 1926: Após o golpe de 28 de Maio é convidado para Ministro das Finanças; ao fim de 13 dias renuncia ao cargo.
- 1928: É novamente convidado para Ministro das Finanças; nunca mais abandonará o poder.
- 1930: Nasce a União Nacional.
- 1932: Presidente do Ministério.
- 1933: É plebiscitada uma nova constituição que dá início ao Estado
Novo. Fim da ditadura militar. É posto um fim ao nome "presidente do
Ministério", passando-se a suar "presidente do Conselho de Ministros".
- 1936: Na Guerra Civil de Espanha apoia Franco; cria a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa; abre as colónias penais do Tarrafal e de Peniche
- 1937: Escapa a um atentado dos anarquistas.
- 1939: Iniciada a Segunda Guerra Mundial, Salazar conseguirá manter a neutralidade do país.
- 1940: Exposição do Mundo Português.
- 1943: Cede aos Aliados uma base militar nos Açores.
- 1945: A PIDE substitui a PVDE.
- 1949: Contra Norton de Matos, Carmona é reeleito Presidente da República; Portugal é admitido como membro da NATO.
- 1951: Contra Quintão Meireles, Craveiro Lopes é eleito Presidente da República.
- 1958: Contra Humberto Delgado, Américo Tomás é eleito Presidente da República; o Bispo do Porto, António Ferreira Gomes critica a política salazarista.
- 1960: Portugal celebra a adesão ao Fundo Monetário Internacional.
- 1961: 22/01, ataque ao navio Santa Maria por anti-salazaristas, que se asilam no Brasil logo após a posse de Janio Quadros; 04/02, assalto às prisões de Luanda; 11/03, tentativa de golpe de Botelho Moniz; 21/04, resolução da ONU condenando a política africana de Portugal; 19/12, a União Indiana invade Goa, Damão e Diu; 31 de dezembro de 1961 para 1 de janeiro de 1962, revolta de Beja.
- 1963: O PAIGC abre nova frente de batalha na Guiné.
- 1964: A FRELIMO inicia a luta pela independência, em Moçambique.
- 1965: Crise académica; a PIDE assassina Humberto Delgado.
- 1966: Salazar inaugura a ponte sobre o Tejo.
- 1968: Na sequência de um acidente (queda de uma cadeira), Salazar fica fisicamente incapacitado para governar.
- 1970: Morte de Salazar.
Notas
-
Saraiva considera ainda Salazar como um homem rigoroso e muito
competente e diz que “Salazar foi, sem dúvida, um dos homens mais
notáveis da História de Portugal e possuía uma qualidade que os homens
notáveis nem sempre possuem: a recta intenção”
Referências
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- SARAIVA, Mário. Sob o nevoeiro: ideias e figuras. Lisboa, Edições Cultura Monárquica, 1987.
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Ligações externas
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Sedes e residências |
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Entre 5 de julho de 1932 e 11 de abril de 1933 foi presidente do Ministério. Com a aprovação da Constituição Portuguesa de 1933, o cargo passou a denominar-se presidente do Conselho de Ministros.
O historiador Carlton Hayes que conheceu pessoalmente Salazar
descreve-o como um académico, austero, tranquilo, superiormente
inteligente, muito diferente do estereotipo de um ditador, um professor
literalmente arrastado da sua cátedra de Coimbra para sanear as finanças
públicas portuguesas.
Sobre Salazar, o Embaixador Britânico, no mesmo livro, diria: Em mais
de 30 anos de vida política eu conheci os maiores lideres e homens de
estado da Europa. Quando penso nas suas qualidades eu coloco Salazar no
topo e entre aqueles que me impressionaram de forma permanente. Salazar
era um impressionante pensador, em parte professor, em parte um padre,
em parte um recluso com crenças inabaláveis na civilização Europeia. Um
asceta concentrado em servir o seu país. Possuidor de um conhecimento
enciclopédico sobre a Europa e indiferente ao luxo, à ostentação ou a
ganhos para proveito próprio. Salazar detestava Hitler e toda a sua
obra…dado que o seu estado corporativo era fundamentalmente diferente do
estado concebido pelo Nazismo ou o Fascismo, Salazar nunca me deixou
dúvidas quanto ao seu desejo de uma derrota Nazi
O texto original da Aide Memoire enviada pela Embaixada Britânica diz: "The
Portuguese Consul at Bordeaux has been deferring until after office
hours all applications for visas and has then been charging them at a
special rate; in at least one case the applicant has also been requested
to contribute to a Portuguese charitable fund before the visa was
granted".
HICEM (acrónimo das três organizações que a compunham: Hebrew Immigrant Aid Society, Jewish Colonization Association e European Emigdirect
Portugal
continuou sempre a acolher refugiados. No Outono de 1940, dois fluxos
maciços de judeus luxemburgueses entram na fronteira portuguesa,
acompanhados por Albert Nussbaum, presidente da comunidade judaica do
Luxemburgo. De acordo com Yehuda Bauer, na segunda metade de 1941
embarcaram em Portugal, com destino "às Américas", 3682 judeus e na
primeira metade de 1942 este número subiu para 4058.[60]
Portugal continuou sempre a acolher refugiados da Guerra e, a partir de
certa altura, estes refugiados começaram a ser instalados em estâncias
de veraneio (Ericeira, Figueira da Foz, Curia, etc.). Esses dias foram
capturados para a posteridade em filme. Imagens de 1943 podem ser hoje
consultadas no Steven Spielberg Film and Video Archive no United States
Holocaust Memorial Museum.[61]
Carta de G. Kennan para Salazar: Lisboa, 25 de Outubro de 1943.
EXCELÊNCIA :
No cumprimento de instruções do meu Governo, tenho a honra de informar
V. Ex.a de que, em ligação com o acordo recentemente concluído entre
Portugal e a Grã-Bretanha, o Governo dos Estados Unidos da América toma o
compromisso de respeitar a soberania portuguesa em todas as colónias
portuguesas.
Rogo a V. Ex.a se digne aceitar os protestos reiterados da minha mais
alta consideração.
George Kennan.
Infopédia. «Artigo de apoio Infopédia - Oliveira Salazar». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 3 de abril de 2018
Universidade de Coimbra. «Prof. Doutor António de Oliveira Salazar». Consultado em 8 de Novembro de 2014
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«Cidadãos Estrangeiros Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "António de Oliveira Salazar". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 11 de abril de 2016
O
direito de voto tinha sido dado às mulheres portuguesas, pela primeira
vez, em 1931,com o Decreto n.º 19.694 de 5 de maio, em que as mulheres
eram admitidas a votar se possuidoras de curso especial, secundário ou
superior, enquanto que ao homem era apenas exigido que não fossem
analfabetos
Tengarrinha, José (editor) (2000). História de Portugal. [S.l.]: Editora da Unvirsidade do Sagrado Coração (EDUSC). 318 páginas
Rémond, René. "Les Droites en France, Paris, Aubier Montaigne (1982).
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Verá
usted: si yo me pregunto cuál es el hombre de Estado más completo, más
respetable entre todos los que he conocido, yo le diré: Salazar. He aquí
a un personaje extraordinario, por la inteligencia, el sentido
político, la humanidad. Su único defecto es tal vez la modestia.
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Nota (de quem?):
O pano de fundo político‐ideológico do Estado‐Novo fazia do comunismo a
grande ameaça à salvaguarda da ordem e equilíbrio pretendidos pelo
regime, daí que, logo em 1933, a PVDE tenha alertado o MNE para a
necessidade de uma estratégia mais rigorosa para a concessão de vistos a
estrangeiros, com especial atenção à possibilidade de entrada em
território nacional de indivíduos considerados subversivos. Com ou sem
fundamento, quem encarnava quase sempre essa “fobia anticomunista”, eram
os polacos, os russos, os apátridas e os judeus. Associados
invariavelmente à “ameaça vermelha”, os primeiros judeus que em 1933
saíam da Alemanha e territórios adjacentes (grande parte dos quais
pertencentes a uma elite literária inconformada com as medidas de
Hitler, também é nesta altura considerada como subversiva).
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